quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Um Problema de STOP

Antigamente o sinal de stop era uma dormência. Tinha sempre que se parar quando se via um. E havia multas para quem não o fizesse e fosse apanhado.
Hoje em dia é completamente diferente. Os sinais de stop ainda existem mas tem uma particularidade muito engraçada – estão escondidos.
Poder-se ia pensar que assim não serviam para nada mas não, dão colorido à condução e aumentam a adrenalina porque, ao chegarmos a um cruzamento, nunca se sabe quando vão aparecer.
E as novas regras dizem:
"Sempre que seja avistado um sinal de stop deverá o condutor acelerar e passar à velocidade de 100 Km/h no respectivo cruzamento. Caso viole esta regra será activada a sequência 1 do chip"
A sequência 1 faz com que a visão se turve e o condutor tenha de travar de repente no meio do cruzamento.
Claro que os outros condutores, ao verem o veículo parado, aceleram para ver se lhe acertam e ganham pontos na carta. Esses pontos servem para descontar qualquer descuido de atenção e não activar a sequência respectiva.
O sinal de stop é muito respeitado. Há quem trema ao chegar a um cruzamento e ele parece que adivinha quem está nervoso porque às vezes só aparece no último instante. Por isso devemos sempre acelerar quando nos aproximamos de um cruzamento!
Mas ele pode também não aparecer e nesse caso temos que parar e esperar que passe outro condutor no cruzamento.
Se não pararmos estamos sujeitos a que se active o sistema de bloqueamento da estrada.
Pois, as estradas agora fazem também parte integrante da vigilância à condução. Têm em vários sítios um sistema especial de bloqueio que prega o condutor à estrada. E quando digo prega é-o literalmente.
Por exemplo, no stop, se ele não aparece, e não paramos, ergue-se uma fiada de pregos que se enroscam nos pneus e imobolizam a viatura. O carro estaca súbitamente e somos cuspidos pelo pára-brisas. Aí podemos fugir do meio da estrada e os danos são menores. Mas só se não tivermos o cinto de segurança…. Há ainda gente que o utiliza embora ele seja de proibição baixa. Pode-se usar mas por nossa conta e risco.
Um dos casos mais caricatos que ja vi foi o de uma velhota com o cinto de segurança posto no meio de um cruzamento. A velha contorcia-se e esperneava para se libertar mas o cinto nem se mexia. Claro que todos os outros condutores vinham colidir com o carro dela para ganhar pontos.
O primeiro foi um miúdo num carro desportivo muito bem artilhado com todas as barras de protecção. Acelerou e passou de raspão arrancando o farolim direito. 7 pontos. Os mirones que estavam ali parados bateram palmas… A velha gritou e começou à procura de um instrumento cortante para tirar o cinto. Felizmente não havia nada disso no carro e ela resmungou qualquer coisa. Mais palmas dos mirones.
Veio então um senhor de meia idade num carro antigo transformado. Acelerou e bateu-lhe em cheio por trás. Infelizmente não lhe conseguiu arrancar qualquer pedaço. Apenas ficou uma ligeira amolgadela. O raio da velha também tinha o carro bem preparado! Ela deitou-lhe a língua de fora e tentou passar com a cabeça por baixo do cinto. Nicles. Aquele cinto era persistente…. Os mirones apuparam o batedor e ele fez marcha atrás para tentar acertar outra vez. Mas os óculos caíram-lhe e ele, pitosga, foi-se estampar num muro que de repente surgiu do lado direito da estrada. Palmas dos mirones! A velha também aplaudiu!
Distraída não reparou no autocarro que vinha a toda a velocidade do lado esquerdo e o condutor, a esfregar as mãos, guinou para tentar cortar o carro ao meio. A velha apercebeu-se do guinchar de pneus e apertou um botão do tablier que inflou um enorme airbag lateral da parte de fora do carro. O condutor não teve tempo de accionar o espigão de airbags e o autocarro foi catapultado para trás esmagando 7 mirones. A velha gritou "Bem feita!" e os mirones começara a ligar os telemóveis para chamar mais espectadores para substituirem os esmagados.
A multidão já era grandita mas agora não havia sinais de qualquer outro carro. Nem a Politrans ainda tinha chegado. E a velha continuava as suas contorções para tirar o cinto.
Quase estava a conseguir quando finalmente apareceu a Politrans que estava disfarçada de moita na berma.
Aproximou-se da viatura e a velha começou a guinchar e a lamentar-se dizendo que o carro se tinha avariado ali! Mas claro que os pregos nos pneus desmentiam veementemente o que ela dizia e o Poli só teve uma alternativa. Puxou do bastão silenciador e pumba acertou-lhe em cheio no alto do cocuruto.
Conseguiu fazer um lindo corte longitudinal e introduziu o choqueador na abertura do crânio marcando-lhe uma parte do cérebro para posterior "reeducação". Chamou a ambulância e foi distribuir pontos pelos mirones pela sua excelente actuação.
Foi demais!

domingo, fevereiro 20, 2005

Fim de semana

Hoje completei o meu quinquagésimo milésimo acidente e fui logo contactado pelo Ministério do Tráfego para ocupar um lugar nas suas fileiras....
Foi uma notícia e tanto, era o que eu mais queria! O fim de semana parece interminável!
Qual será a função que eles me irão dar?

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

A Nova Carta


Hoje acordei com o novo código da estrada decorado! As almofadas distribuidas pelo Grande Gestor Administrativo são uma beleza… Enquanto dormimos, um sistema de microfones microscópicos sussurra aos nossos ouvidos todas as matérias importantes para o cidadão. Ontem foi o novo Código da estrada por isso estou bem disposto. Esta manhã vou buscar a nova carta. Nada de papéis nem cartões. Apenas uma pequena injecção que nos coloca um sensor na testa, debaixo da pele, entre as sobrancelhas. Quando esta medida foi anunciada houve muitos protestos por causa da questão estética mas o microchip é tão pequeno que nem se nota. A princípio tem-se um pequeno desconforto quando se franze a testa mas depois habituamo-nos. Até é útil para reduzir as rugas naquele sítio e há quem peça que lhe seja implantado um tamanho maior. O microship tem incorporada um câmara de infravermelhos que grava tudo o que fazemos ao conduzir. Quando entramos no carro e ligamos o motor este envia um sinal que activa a Câmara, inicia o processo de vigilância e transmite as contravenções para a Politrans. E não há maroscas! Não se pode tapar os poros daquela zona. Houve já quem tentásse, pondo um lenço na testa, mas deu-se mal…. O chip quando não tem visibilidade e está activo imite um som inaudível que provoca uma enorme dor de cabeça. Se os poros não forem desobstruidos em 30 segundos a pessoa desmaia e é transmitido um sinal aos gestores da estrada. A Politrans é avisada e vai buscar o infractor. Claro que se davam a princípio imensos desastres mas o pessoal viu que não havia nada a fazer e desistiu de tentar boicotar o sistema. Também não se pode olhar para baixo, a fingir que está qualquer coisa mal no volante ou nos pedais…. Se isso acontecer é disparado um raio que provoca furos do terceiro grau. É cá um cheirinho a queimado! Eu sei porque ia no carro com o Frísio e ele deu-lhe na cabeça tentar conduzir sem olhar para a estrada. Foi cá um desastre que nem queiram saber. O que vale é que eu não tinha o cinto posto e fui ejectado no momento do embate. Ele ficou com um buraco na perna até ao osso e ainda hoje lhe custa imenso andar. Mas foi remédio santo. Nunca mais desviou os olhos da estrada! Para além disso existe uma sequência de contravenções que activa a autodestruição do chip e então ele explode deixando o cérebro feito em fanicos! Fixe! Mas isso tudo não me preocupa nada pois andar na estrada hoje em dia é baril! Nada como nos tempos antigos em que as regras eram sensaboronas até dizer chega. Ná, isso acabou. Já tenho a carta nova!