A Nova Carta
Hoje acordei com o novo código da estrada decorado! As almofadas distribuidas pelo Grande Gestor Administrativo são uma beleza… Enquanto dormimos, um sistema de microfones microscópicos sussurra aos nossos ouvidos todas as matérias importantes para o cidadão. Ontem foi o novo Código da estrada por isso estou bem disposto. Esta manhã vou buscar a nova carta. Nada de papéis nem cartões. Apenas uma pequena injecção que nos coloca um sensor na testa, debaixo da pele, entre as sobrancelhas. Quando esta medida foi anunciada houve muitos protestos por causa da questão estética mas o microchip é tão pequeno que nem se nota. A princípio tem-se um pequeno desconforto quando se franze a testa mas depois habituamo-nos. Até é útil para reduzir as rugas naquele sítio e há quem peça que lhe seja implantado um tamanho maior. O microship tem incorporada um câmara de infravermelhos que grava tudo o que fazemos ao conduzir. Quando entramos no carro e ligamos o motor este envia um sinal que activa a Câmara, inicia o processo de vigilância e transmite as contravenções para a Politrans. E não há maroscas! Não se pode tapar os poros daquela zona. Houve já quem tentásse, pondo um lenço na testa, mas deu-se mal…. O chip quando não tem visibilidade e está activo imite um som inaudível que provoca uma enorme dor de cabeça. Se os poros não forem desobstruidos em 30 segundos a pessoa desmaia e é transmitido um sinal aos gestores da estrada. A Politrans é avisada e vai buscar o infractor. Claro que se davam a princípio imensos desastres mas o pessoal viu que não havia nada a fazer e desistiu de tentar boicotar o sistema. Também não se pode olhar para baixo, a fingir que está qualquer coisa mal no volante ou nos pedais…. Se isso acontecer é disparado um raio que provoca furos do terceiro grau. É cá um cheirinho a queimado! Eu sei porque ia no carro com o Frísio e ele deu-lhe na cabeça tentar conduzir sem olhar para a estrada. Foi cá um desastre que nem queiram saber. O que vale é que eu não tinha o cinto posto e fui ejectado no momento do embate. Ele ficou com um buraco na perna até ao osso e ainda hoje lhe custa imenso andar. Mas foi remédio santo. Nunca mais desviou os olhos da estrada! Para além disso existe uma sequência de contravenções que activa a autodestruição do chip e então ele explode deixando o cérebro feito em fanicos! Fixe! Mas isso tudo não me preocupa nada pois andar na estrada hoje em dia é baril! Nada como nos tempos antigos em que as regras eram sensaboronas até dizer chega. Ná, isso acabou. Já tenho a carta nova!
4 Comments:
Imaginação não te falta.
Parecias o Orwell no 1984.
Eu é que não quero o chip, prefiro o autocarro a ficar cheia de buracos!
Fiquei sem palavras...
Fugiram-te as palavras? Então vê lá se as apanhas c'a malta quer mais postas!
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